"Karadzic não pode ser julgado sem Mladic"
Como é que Radovan Karadzic conseguiu escapar à justiça internacional durante 13 anos?
Porque nunca houve vontade política para capturá-lo e porque nunca foi verdadeiramente procurado. Sempre se soube que se encontrava na sua vivenda em Belgrado e que se deslocava entre a Bósnia, a Sérvia e o Montenegro , sem ser incomodado pelas tropas da NATO.
No seu livro 'Paz e Castigo' afirma que Karadzic beneficiou do apoio da Rússia e da cumplicidade de vários países ocidentais...
É uma situação inexplicável e injustificável e é exactamente por isso que assistimos hoje a esta mudança de atitude. A União Europeia não podia continuar a aproximar-se de um país por onde circulavam livremente suspeitos de crimes contra a humanidade. E é importante recordar que, dos 27 países da UE, a Bélgica e a Holanda foram os únicos a exigir a detenção de Karadzic e Mladic como condição para prosseguir as negociações de adesão com a Sérvia.
No livro deixa também entender que os países ocidentais teriam medo que Karadzic pudesse revelar ao TPI as circunstâncias do massacre de Srebrenica em 1995.
Karadzic não deverá revelar nada que já não saibamos, como o facto de que os ocidentais decidiram não intervir em Srebrenica para facilitar um processo de paz. É certo que não aprovaram os crimes, mas também não tomaram medidas para evitá-los, tendo optado por fazer certas concessões ao campo mais forte na época, que era o lado sérvio. Mas a credibilidade dos ocidentais sairia mais danificada se renunciassem a deter alguém perseguido por crimes contra a humanidade.
A captura de Ratko Mladic, antigo comandante dos sérvios da Bósnia, deve ser o próximo passo?
Mladic encontra-se na Sérvia e beneficia de apoios no país desde 1997, depois de ter abandonado a Bósnia. Mladic e Karadzic são acusados dos mesmos crimes, por isso têm de ser julgados em conjunto. Se Mladic não for detido, o mais tardar até ao final do ano, um processo teria de começar sem a presença do outro e o TPI nunca teria nem os meios nem a autorização do Conselho de Segurança da ONU para realizar dois processos separados.